segunda-feira, 29 de março de 2010

História de Boqueirão

A origem de Boqueirão está associada a marcha para a ocupação do interior através das Entradas e Bandeiras, as quais, tinham como objetivo posse da terra e o combate aos Índios da região.
A cidade de Boqueirão tem suas origem na aldeia implantada por Antonio de Oliveira Ledo, por volta de 1970, “foi em meados do século XVIII, que chegaram ao atual município de Cabaceiras os primeiros civilizadores, tendo como chefe o bandeirante baiano Antonio de Oliveira ledo, fundador da vila de boqueirão, primeiro núcleo de casas de brancos que a comuna possuiu”.
A bandeira da família Oliveira Lêdo, seguindo o rio Paraíba depara-se na Serra de Carnoió com o boqueirão (abertura na serra onde corre o rio), local ideal para as instalações de currais de gado.
“Boqueirão fora matriz do mais antigo curral de gado, instalado por Antonio de Oliveira Lêdo da região de São Francisco”.
Os Oliveiras Ledos aos instalarem os currais de gado tratarem de aldear os índios ali existente.
Os índios habitantes da serra de Carnoió, eram da nação cariri conhecido também como Tapuias. Estes não foram passivos diante da ocupação de seus espaços pelos criadores sempre resistiram, mas a luta foi desigual e desfavorável aos nativos.
Ainda como herança dos nossos antepassados, temos a confecção de redes-de-dormir, uma atividade que perpassa de pai para filho, mantendo-se quase que intacta todo processo de produção, apenas ocorreram algumas transformações como por exemplo: o fio que se transformou em produto manufaturado, com a implantação das Indústrias têxtil.
Em síntese, a economia de Boqueirão perpasse os séculos XVIII a XIX e metade do século XX com a atividade criatória associado a produção de subsistência e do algodão.
O baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas impediu que Boqueirão desenvolvesse, permanecendo como vila por muito tempo, segundo um morador de Boqueirão, na década de 40, a pacata vila contava apenas com uma rua principal à margem do rio, outras bem menores em torno da igreja e um comércio incipiente de gênero de primeira necessidade.
Só apartir da década de 50, é que um acontecimento de grande envergadura, a construção do açude de Boqueirão, barrando o leito do rio Paraíba na Serra de Carnoió, inicio do processo de transformação da vila, como também da estrutura agrária provocando mudanças sociais na região que repercuta até os dias atuais.
A construção do açude de Boqueirão já era ventilada no final do século XIX, pelo historiador campinense IRINEU JOFFILY. “sugeria ele às autoridades estaduais das possibilidades oferecidas pelo rio Paraíba, que no seu curso rompia o obstáculo da Serra de Carnoió, prestando-se no represamento das águas e, conseqüentemente, a construção do açude”.
Quase um século depois da advertência de Irineu Joffily, em 1951, tem início os trabalhos da construção do açude Epitácio Pessoa, cujo nome é homenagem ao presidente, que em sua gestão iniciou o processo de estudo e demarcação da área, como também a elaboração do projeto.
Apesar dos anseios da população local, que há tantos anos esperava a construção do açude, na esperança de dias melhores. Este só veio apartir da articulação dos setores dominantes paraibanos, mas precisamente campinense.
No inicio da década de 50, Campina Grande (maior centro populacional do compartimento da Borborema) vivenciava grandes problemas com o abastecimento, o volume de água da barragem de Vaca Brava já não era suficiente para atender a população que crescia desordenadamente, sem perspectiva, haja vista, que a cidade não contava com a infra-estrutura necessária para atender sues novos moradores, um dos maiores problemas era a ausência do líquido precioso e trabalho.
Na busca da solução do problema da falta de água, a burguesia campinense conta uma grande aliança, a igreja.
Na resolução n° 1 do Encontro dos Bispos do Nordeste realizada em Campina Grande e aprovada por Juscelino Kubitschek contava o seguinte: “constituído a resolução do abastecimento d’água de Campina Grande, verdadeira barreira das correntes migratórias para o sul do pais, não dispondo entanto o Estado e o Município de recursos para a realização das obras em curto prazo, como exigem as necessidades dos mil habitantes desta cidade, maior núcleo populacional urbano do Interior do Nordeste do Brasil. E recomendado por isto ao governo Federal que, considerando o abastecimento d’água de Campina Grande, completar a Borborema de Boqueirão de Cabaceiras, do Sistema Rio Paraíba de alta prioridade a execução das referidas obras;”.
Presidente Juscelino Kubitschek, o desenvolvimento, com prioridade a grande Indústria, atendendo portanto os objetivos do abastecimento de Campina Grande: ampliação do parque industrial e retenção da população da área polarizada por Campina Grande, apartir dos empregos criados pela nova indústria.
Dessa forma, o pleito dos setores dominantes contou com apoio do governo desenvolvimentista. Os anos 490e 50 foram absolvidos pelos trabalhos de topografia em 1951 iniciou os trabalhos de construção propriamente dito, coordenado e realizado pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
Com o advento da construção do açude, a vila de Boqueirão se transformou num ponto de convergência de milhares de operários e técnicos vindo de muitos lugares. “um complexo de homem e máquinas se movia diuturnamente num vai e vem impressionante durante cinco anos. Muitas coisas aconteceram gerando lágrimas, suor e sangue, o que é peculiar as grandes obras”.
A serenidade da pacata vila é quebrada, a construção passa a conviver com novos costumes, linguagem e horários, provocando mudanças no seu dia-a-dia, À medida que desenvolvia os trabalhos da construção do açude, aumentava a população local, conseqüentemente formaram-se novas ruas, desenvolvia o comércio e novas profissões surgiram de acordo com a necessidade, transformando assim, a imagem da vila que começava a sonhar com a sua emancipação de Cabaceiras.
Apesar das mudanças processadas na vila, terem sido consideradas promissoras, na zona rural não foi possível constatar o mesmo, os proprietários das terras inundadas com as águas represadas foram expulsos outros se proletarizaram e os habitantes das margens do leito do rio foram obrigados a desenvolver outros atividades. Dessa forma percebeu-se que a construção do açude tinha como único objetivo abastecer a cidade de Campina Grande, e não beneficiar a população rural local, com isto evidenciava-se que a política e as diretrizes dos governos Federal e Estadual não tinha como objetivo fixar o homem da terra.
Apesar de não contar na época com o avanço tecnológico de hoje, como destaca em seu depoimento um funcionário do DNOCS. “a propósito de equipamentos não contava com copiadores, máquinas de escrever ou calculadora elétrica, maquinário de terraplanagem limitada e de pequeno porte e comunicação feita exclusivamente pelos correios e telégrafos”. Os trabalhos se desenvolveram em rítimo acelerado, co o apoio da saciedade local e da equipe técnica chefiada pelo engenheiro Anastácio Honório Maia, três mil operários em regime de trabalho integral (24 horas por dia inclusive domingos e feriados, dedicaram todos os esforços possíveis ao grande desafio, a construção do açude de Boqueirão de Cabaceiras barrando o rio Paraíba, com capacidade de armazenamento de 540 milhões de m3).
Em 11 de janeiro de 1957 o açude de Boqueirão foi inaugurado pelo então presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, acontecimento que ainda hoje está marcado na memória dos que participaram do evento, “a festa de inauguração durou três dias e contava de churrasco, danças ao ar livre a noite, pastoril e muita outras atrações”.
Inaugurado açude, as atenções das autoridades paraibanas se voltam para a adutora. O que concretizaria de fato o abastecimento de água de Campina Grande e em Boqueirão e fundado os Grupos Cariris, constituídos pelas seguintes entidades: Banco de Nordeste do Brasil S.A (B.N.B), Banco do Brasil S.A (B.B); Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS); Departamento Nacional de Produção (DNPV) e Departamento Nacional de Produção Animal (DNPA). O Grupo Cariri veio como uma espécie de consolação para a população local, haja vista que a princípio o açude só beneficiaria Campina Grande. O objetivo do mesmo era promover o desenvolvimento criatório da pecuária leiteira da região com o apóio técnico e financeiro da Entidade já citada, na perspectiva de resgatar uma das principais atividades produtivas da região, que sobrevivo desde as suas origens.
No entanto, a atuação do referido grupo foi limitada, não atingindo portanto seus objetivo, conseqüentemente nenhuma repercussão na comunidade, a área de instalação do projeto hoje é a Escola agropecuária em fase implantação, após 27 anos as autoridades locais parece ter descoberto a vocação agrícola da região.
Com a evolução da vila propiciada pela construção do açude e a sua projeção a nível local e regional, os habitantes locais reivindica dos órgãos competentes do Estado a sua emancipação política de Cabaceiras. O que aconteceu por força da lei estadual n° 19026 de 30 de abril de 1959.
Emancipada a vila de Boqueirão de Cabaceiras, as autoridades locais e a comunidade trata de proporcionar as condições mínimas para funcionamento da cidade por outro lado, a população ribeirinha assiste ao vivo as águas da represa do açude aumentar assustadoramente a cada ano, haja visto a descrença do povo em que as águas chegassem a atingir certas áreas provocando pânico em alguns moradores que só resolveram sair de suas residências com a chegada das águas. No inverno de 1960, o açude sangra pela primeira vez definido assim toda extensão de terras cobertas pelas águas, de Boqueirão a Cabaceiras perfazendo uma área de de comprimento de largura.
Definida as áreas atingidas pelas águas, iniciou o processo de produção hortifrutigranjeiro, o que vai provocar mudanças econômicas e sociais na região.



NOTAS BIBLIOFRAFICAS

1) Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Publicação Comemorativa do 4° aniversários do governo JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA em; 31 de janeiro de 1985. p.213.
2) ALMEIDA, HORACIO. HISTORIA DA PARAÍBA. JOÃO PESSOA, Ed.Universitária
3) 1987.
4) Artigo publicado no Espaço livro do jornal da Paraíba em; 19 de outubro de 1993 intitulados de Boqueirão (II), de autoria de Severino A. Guimarães (funcionário aposentado do DNOCS).
5) JOFFILY, IRINEU. Notas sobre a Paraíba, Brasília, tesouro editora 1977, p.18
6) DO BÚ, Gilvanete Rocha, história (oculta) do abastecimento D’água de Campina Grande. Mamografia do Bacharelado em história. UFPB, Campina Grande, 1986. p.16
7) Boqueirão II, Severino Amaro Guimarães
8) Boqueirão IV, Severino Amaro Guimarães
9) BoqueirãoVI, Severino Amaro Guimarães

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